sábado, 16 de outubro de 2010

O privado e a privada

Falou o velho rabugento no balcão do bar:


- Morre mais gente no trânsito do que na guerra, tem mais tiro aqui do que no Iraque... Por outro lado, tem muita coisa boa acontecendo: eleições democráticas, convivência entre os diferentes... alguns... mas eu não entendo o porquê de ficarem falando desses programas que os caras passam tempos presos, sem sair, convivendo com outras pessoas e várias câmeras ligadas pra mostrar um pouco da privada vida de cada um. Cada um conquista seu próprio reino e o centro do castelo é seu próprio umbigo. Quem é que vai se importar com a vida lá fora se cá, na privada, todos estão a salvos? A salvos? Eu diria melhor: todos estão privados como a merda que desce ao esgoto, pois assim, o cheiro tenta ser camuflado, jogado pra debaixo da terra! Ah, mas sempre volta alguma coisa... há de voltar!

- Ei rapá! Tu ta falando daqueles programas da TV? Ou daquela história dos mineiros? (Disse o balconista).

- Eu dizia que cada um está sentado na sua própria privada. O desconforto é tão grande por não se ter ninguém por perto e não saber o que o resto da humanidade faz, que todos sentem um desejo enorme de saber se o privado de cada um fede tanto quanto o seu. Privados estão de viver e não sabem por quê. Tentador é achar um culpado pra matá-lo, engoli-lo e jogá-lo no ralo, mas esse culpado ninguém vê. Nenhum olho enxerga sua própria retina.

Um comentário:

  1. Assim como foi tirado o Homossexualismo, como doença, do DSM. O Voyeurismo talvez chegue lá algum dia (graças aos reality shows). Como bem pontuou uma colega analista do comportamento, Nazaré Costa.

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