segunda-feira, 19 de outubro de 2009

Sobre as marcas

Nem um corpo é igual
Até os gêmeos monozigóticos tem suas diferenças,
E não só na íris, na impressão digital,
Mas em uma impressão na e da história.

Na vacina da BCG no braço
No sinal de catapora que foi coçada
Naquele escorregão andando de patins.

Nas marcas provocadas no outro,
que depois de um contato mais íntimo,
carrega o fantasma dos contornos,
da textura da pele,
do sorriso característico,
do jeito de andar,
de perguntar:
-Como foi seu dia? Você vem hoje?

Enfim, as relações são como o pão de cada dia
Todos têm seus sabores e odores.
Felizmente ou infelizmente, algum acabou dando água na boca
e nos leva a perguntar – desejar - no outro dia:
- não tem aí um mais queimadinho, que nem o do fim de semana?

terça-feira, 13 de outubro de 2009

Memórias de Emília, Monteiro Lobato

Texto apresentado a mim por minha amiga Giovana.
a maneira mais sintética e pura que já li sobre vida e morte!



"A vida, Senhor Visconde, é um pisca-pisca.
A gente nasce, isto é, começa a piscar.
Quem pára de piscar, chegou ao fim, morreu.
Piscar é abrir e fechar os olhos - viver é isso.
É um dorme-e-acorda, dorme-e-acorda,
até que dorme e não acorda mais.
A vida das gentes neste mundo, senhor sabugo, é isso.
Um rosário de piscadas.
Cada pisco é um dia.
pisca e mama;
pisca e anda;
pisca e brinca;
pisca e estuda;
pisca e ama;pisca e cria filhos;
pisca e geme os reumatismos;
por fim, pisca pela última vez e morre.
- E depois que morre - perguntou o Visconde.
- Depois que morre, vira hipótese. É ou não é?"

Memórias de Emília, Monteiro Lobato

segunda-feira, 5 de outubro de 2009

O encontro

Obrigado falta,
agradeço-te ausência.
Sinto um vazio que me preenche de mim mesmo:
subjetivo, meu que é sobre, objetivo, meu mais claro adjetivo.
Não te culpo mais, mas... já o fiz.
Pois hoje, ausência transforma-se em essência, a suma do que sou eu.

sexta-feira, 2 de outubro de 2009

Fotografando a beleza

Ninguém é fotogênico
A foto captura apenas um momento
Mas a beleza está no movimento,
No olho procurando o olhar,
Nas pernas que balançam pra andar,
Na boca que se mexe pra falar.

A vida leva segundos, minutos, anos
A foto leva menos que um instante
De toda beleza que é fundamentalmente
Vibrante, incessante, inconstante.